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Crônicas de Szaksia – Capítulo 4

Arjen e Freya aguardaram o gigante se espreguiçar antes de entregar-lhes sua missão. O monstro sentou em frente à dupla e começou a falar.

– Os gigantes de Ladakourdbiadvansperui são outros oito seres como eu, que foram aprisionados em artefatos nos tempos antigos de guerra e isolados em diferentes locais do mundo. Nosso papel era proteger o continente de Szaksia, cada um de nós em uma ilha, juntamente com os magos humanos e os elfos negros, até que as antigas guerras assolaram o continente.

– Mas os causadores das guerras antigas não foram os magos e os elfos?

– Na história que foi passada para as gerações através dos humanos e dos dragões, sim, mas esta não é a verdade. Nossa missão agora é impedir que um ser, que deve ser um mago, tente destruir a sociedade que vocês conhecem, por saber esta verdade. Somente um mago poderia ter usado a magia das estrelas.

– Nossa história está errada? Magia das estrelas? Cara, você não está ajudando. – Respondeu Arjen, confuso com as afirmações do gigante.

– Talvez este não seja o momento para a verdade. Vocês precisam provar da verdade para estarem preparados para recebê-la. Independente da verdade, precisamos encontrar os gigantes. Eu, Glacius, fui aprisionado em Szaksia, pelos dragões. Para impedir o mago da magia das estrelas e prepara-los para o que está por vir, o poder de mais dois gigantes será suficiente. Os dragões se acomodaram. O nosso retorno não é esperado. Com o poder de três gigantes, podemos dar conta da magia das estrelas e depois trazer a verdade a tona.

– Legal, se o momento não é da verdade, vamos ao que interessa. Onde podemos encontrar seus amigos monstros? – Respondeu Arjen.

– Os gigantes foram aprisionados em outros continentes, fora de Szaksia. Existem dois continentes próximos à nossa posição atual. Ariafall, ao sudeste do Império Azul, domínio das bestas e Krainaumar, a extremo sul, depois de Ariafall, domínio dos áureos negros.

– Áureos negros? Mas os áureos são guerreiros da luz, clérigos, sacerdotisas, como eu deveria ser… – Exclamou Freya.

– Mais uma vez, as palavras são manipuláveis, assim como a história. O registro da história é feito pelo homem, portanto se o homem altera a história, ela se propaga alterada. As pessoas estão sendo enganadas por milhares de luas brancas, porém a nossa prioridade agora não é dar a verdade às pessoas, nossa prioridade é salvar os inocentes. A magia das estrelas, conhecida como Gigantus, foi uma magia poderosíssima no passado que ensinamos aos magos a fim de acabar com a guerra. Havia uma magia menor chamada Incantus, que condensava energia bruta em um objeto, uma espada, uma armadura, deixando-o exponencialmente mais poderoso. A magia possuía uma limitação de quantidade de energia, pois quanto mais energia, mais instável o objeto poderia ficar. Como último recurso na guerra, nós gigantes ensinamos aos magos uma extensão desta magia, que poderia condensar massas colossais, até mesmo estrelas inteiras, fontes puras de energia, em quantidades que até então jamais poderiam ser manipuladas, desde que o objeto também fosse poderoso suficiente para suportar tamanho poder. Os magos construíram armaduras gigantes para usar a magia e começamos a virar o jogo, mas a Gigantus chegou ao conhecimento de um homem, que a utilizou contra nós e levou a guerra ao fim. Nós, os gigantes, fomos aprisionados e agora vivemos através dos objetos que foram utilizados para nos suportar.

Crônicas de Szaksia - Capítulo 4 - O passado de Szaksia: Gigantus

– Arjen… Sabe o que isso significa? – Disse a garota, que encontrou a confusão no rosto de seu colega, coçando sua testa sem parar.

– Gigante, pode esperar um minutinho?

Arjen se afastou do gigante, puxando Freya pelo braço. Os dois encostaram em um rochedo para conversar.

– Freya, o que a gente faz? O bicho quer que a gente vá para os continentes perdidos. Nossos ancestrais diziam que esses lugares estão cheios de maldade e morte. A gente vai morrer!

– Calma Arjen. Você prestou atenção no que ele disse? Nossos ancestrais são mentirosos! Nada que está em nossa história é confiável!

– E se ELE for o mentiroso?

– Ele salvou sua vida daquele dragão vermelho.

– Ele pode estar nos manipulando. Fomos os únicos que chegamos até ele! Vai que ele está planejando usar a gente num plano maligno maior e depois sacrificar-nos.

– Ou a sociedade pode estar sendo manipulada pelos impérios. Você está diante de uma criatura milenar, lendária, como pode confiar mais nos impérios que nos obrigam a trabalhar no mercado negro se quisermos ganhar alguns dudas a mais para tentar subir na vida?

– Legal, vamos supor que a história está toda errada. Ainda sim não sabemos o que tem nos continentes perdidos. Pode estar cheio de monstros gigantes, tipo ele, só que sem a parte que conhece a gente, depende da gente.

– E também pode estar cheio de tesouros e artefatos que podemos trazer de volta quando tudo acabar, vender e ficarmos podres de ricos.

A sacerdotisa acertou um ponto sagaz na cabeça de Arjen. Ela sabia que, ao falar de dinheiro, não havia perigo que o segurava. Ele coçou a testa uma última vez e ficou preso em seus pensamentos por alguns minutos, como numa balança, medindo o medo do desconhecido e o dinheiro do desconhecido. O impasse foi logo resolvido ao pensar em seu futuro castelo, ou até mesmo, em seu futuro continente. Muitos “e se…” flutuavam com terras inexploradas, mulheres, dinheiro, cidades inteiras convencidas de que ele seria um deus enviado das estrelas para governa-los, mais dinheiro…

Os dois retornaram ao gigante, que afiava as unhas do pé em um rochedo.

– Topamos a missão ai, com uma condição.

– Pode dizer, caro cavaleiro.

– Quando a missão acabar, estamos livres pra vender qualquer artefato que conseguirmos no caminho que não sejam vocês gigantes, e podemos viver na nossa, tranquilos.

– É um pedido simples. Se a missão for concluída, regozijarão de um período de paz que pode durar por milhares de luas brancas.

– Combinado, mas não dá pra ir a pé até os continentes perdidos né. Nem eu nem Freya temos asas, barcos não navegam para fora de Szaksia sem serem destroçados pelas criaturas do mar aberto. Como faz?

– Precisamos consultar o druida da Borda do mundo. Esta é a primeira parte de nossa viagem. De onde estamos, seguiremos para o sul, até o limite do Império Azul, aguardaremos a maré da lua branca passar, revelando um caminho até uma ilha, ainda nos domínios de Szaksia, conhecida como Borda do mundo. A viagem será longa, portanto levem o quanto for possível de provisões.

– E você vai assim, gigante, andando do nosso lado como se fosse a coisa mais normal do mundo?

– Ao contrário. Devo evitar ficar nesta forma, pois ela consome muita energia, que só consigo recuperar durante a noite. Sem minha energia, esta espada é apenas um artefato comum. Peço que me invoquem somente em caso de emergência.

– Combinado. Agora entra ai na espada que eu quero acabar logo com isso.

– Calma Arjen, ele deixou bem claro que a viagem vai ser longa…

– Então precisamos correr!

Empunhando a Glacius, Arjen e Freya voltaram à cidade de Teraf para comprar provisões e seguiram para o sul, sem saber que estavam sendo seguidos por um grupo de mercenários, contratados pela Lotus Preta.

 

…continua

Leia os demais capítulos aqui: https://kairasensui.wordpress.com/cronicas-de-szaksia/

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